Se você veio de alguma rede social da mercê já sabe que estamos morando em uma casa de 100 anos! Nos mudamos recentemente de um apartamento stúdio no centro para uma casa antiga de bairro. No instagram vocês acompanharam o processo e no IGTV conheceram um pouco de como viemos parar aqui.
Em 40 dias de casinha, entre idas e vindas algumas coisas já ficaram bem claras para mim, pessoal e profissionalmente. E mesmo que você não more ou não queira uma casa de 100 anos, o que eu aprendi aqui vale pra qualquer lar!
Esses dias conversando com a vizinha da casinha eu descobri que a pessoa que construiu e morou a vida inteira aqui tinha muito medo de que a casa fosse demolida. Depois que a casa foi colocada à venda os atuais proprietários foram os únicos que ao vir ver a casa não quiseram demoli-la. O espaço do terreno é ótimo e a maioria das pessoas que entravam aqui só pensavam em derrubar tudo e construir um novo casarão como os que existem na região.
A casa estava toda destruída e a maioria das pessoas não conseguiam enxergam o potencial além daquilo que estava diante dos olhos!
Se uma reforma “comum” já dá trabalho, imagine em uma casa centenária. Toda a parte elétrica e hidráulica foi trocada, em alguns cômodos os pisos de madeira, condenados, também. As estruturas foram avaliadas, portões foram feitos, a casa foi inteira pintada (e diga-se de passagem pintar casa de madeira é muito difícil!) enfim … dá para dizer que é perfeito? Claro que não! E esse é o charme.
Quando entramos a casa já estava reformada e os toques de cor e acabamento que damos são por capricho e não necessidade. Olhar para os azulejos e ver o pedacinho azul que não ficou totalmente coberto é o que conta a história de quem morava aqui (…) essas são as coisas que nos mostram os resquícios de vida de um espaço que muitas pessoas só pensavam em destruir, e isso é renovador.
Eu entendo que a maioria das pessoas procurem imóveis novos. Pensem em construir e não reformar.
Mas eu preciso dizer algo, que talvez doa.
Nós vivemos, hoje, em um mercado linear. Compramos, usamos, jogamos fora.
Tem sido assim por um bom tempo, fomos ensinados que assim é melhor. Roupa nova é melhor que roupa de brechó. Casa nova é melhor que casa reformada. Móvel novo é melhor que móvel restaurado.
É mesmo?
Será que pensar em uma economia circular não é um bom caminho para diminuir impactos ambientais e como plus preservar histórias? Será que se fôssemos mais caprichosos, mais amorosos com as coisas de família, com as casas antigas não estaríamos gerando coisas novas através de antigas e fazendo, de alguma forma, a economia circular com mais consciência?
Eu não estou dizendo que construir e comprar novo é ruim. Estou dizendo que podemos pensar sobre. E definitivamente, precisamos pensar sobre.
Um dos meus requisitos para o nosso novo lar era “ser velho”.
Podemos fazer uma votação no stories de quão estranha sou por querer alugar uma casa velha vs uma casa nova e recém acabada.
Mas, além do meu amor por coisas com histórias o que me fez pontuar isso como requisito era a possibilidade de eu colocar a mão na massa e me desafiar na prática além das técnicas que conheço.
Como desginer de interiores ou como pessoa que consome, dou extrema importância para a seleção dos profissionais que irão executar um projeto. É claro que o valor é parte importante, mas as referências e a forma como eles se posicionam pesam muito mais na hora de indicar ou não um profissional.
A minha intenção era, então, entender mais do porquê alguns profissionais são como são e cobram o quanto cobram.
E bom, pouquíssimos dias de casinha e já estou entendendo.
As soluções podem parecer fácil e, na maioria das vezes, são possíveis de serem feitas, mas o trabalho que cada detalhe gera é imenso, e qualquer pessoa que já fez uma reforma e acompanhou de perto o processo sabe que imprevistos irão acontecer.
A gente faz a medida, pontua o que será necessário, vai na loja, compra, volta e começa a executar. No meio, algo não sairá como o planejado. Seja por falta nossa ou por imprevistos. É um vai e vem que parece não ter fim. Nosso cérebro trabalha acelerado encontrando soluções para cada um dos imprevistos, e por aí vai.
Duas coisas aconteceram comigo nesse processo, que está só no começo por sinal.
Todas as vezes que algo tinha que ser instalado eu me sentia perdida, não estava entendo o porquê de ser como é, nas lojas então, cada departamento com 1 milhão de ferramentas e peças me deixavam assustada.
Ate que alguém me disse que “o óbvio nem sempre é tão óbvio”, e bom, nem sempre é mesmo. E a gente precisa estar pronto pra enfrentar essas questões.
Eu sempre procuro pessoas para estar comigo que quando um problema surge já me trás as possíveis soluções, foi assim que eu aprendi a ser no local onde trabalhei, e são essas as pessoas que eu busco ter em minha rede de contatos.
Se em um projeto novo já existem limitações, de tamanho do terreno, profissionais capacitados, disponibilidade de matéria prima, imagem vocês a quantidade de limitação que existem em uma casa antiga.
Obviamente não dá para colocar em prática todas as ideias de pinterest e houzz que temos; e aqui nem estamos falando de limitações financeiras.
Cada dia tem se tornado mais claro pra gente que precisamos ser adaptáveis e passar a amar coisas que antes não necessariamente estavam na nossa cabeça, mas que são as possíveis de serem executadas.
Exemplo: não queremos/não podemos quebrar parede e são preciso novos pontos de tomadas para conseguirmos ter o que queremos em determinado lugar.
Como faz? Cabeamento aparente! Seria a minha primeira opção, talvez não. Mas funciona, dá pra fazer ficar legal, misturar estilos e pensar fora da caixa? Com certeza! Então pronto.
Se você gosta de decoração, mesmo que não seja da área, provavelmente sabe da quantidade de feras que existem aqui no Brasil para apresentar novos materiais e novas soluções.
Uma das primeiras feras que acontecem no ano é a EXPO REVESTIR, ela é gigante e centenas de marcas estão presentes para colocar em exposição as novas “tendências” que as vezes perduram por muito tempo.
Nesse ano, eu não fui por conta de toda a pandemia, mas analisei de longe e uma coisa que TODAS as marcas de revestimento, acabamentos, louças e metais que acompanhei pontuaram e incluiram no seu repertório de materias é o aspecto natural!.
Na casinha temos chão batido, tijolinho como acabamento, madeira antiga no chão e nas paredes – por óbvio. (…) e eu posso dizer, com toda a certeza: é muito agradável estar cercada por materiais naturais. Eu não sei explicar como isso acontece dentro de nós, mas não dá para negar que estar cercado de referências naturais nos acalma, tranquiliza, equilibra.
Nós visitamos muitas casas e apartamentos antes de encontrar essa casinha. E só duas delas me fez sentir o que eu sinto aqui.
Uma foi a casa hobbit, quem me acompanha no instagram sabe o dilema que foi. E a outra foi a nossa casinha. Com a diferença que aqui temos mais espaço, segurança, vizinhos queridos e ainda a música oficial dos passarinhos!
A casinha tem sido um processo incrível na nossa vida e as poucas semanas morando aqui já tem nos ensinado muita coisa que podemos passar pra frente como conhecimento e experiência. Se vocês quiserem acompanhar mais no instagram @merce.design compartilhamos diariamente sobre ela. Lá tem a história de como viemos parar aqui, tem foto das reformas que estão acontecendo no jardim, tem dicas e a nossa rotina, vai ser incrível ter vocês por lá também. 🙂
Um abraço,
Eliziê Ribeiro.