Ser direto e ter uma linguagem clara talvez seja uma das características mais escassas no mercado, não só de interiores.
O falar sem realmente falar, explicar por cima, não entrar em assuntos “desconfortáveis”, para uma das partes, só faz com que a relação cliente-profissional se desgaste, e dentro da minha área, que a relação cliente-lar, profissional-projeto, se torne cansativa.
Eu realmente entendo, principalmente se você está começando – não há muito tempo eu também estava começando – sentir confiança era, sim, difícil.
Somos educados a “tomar cuidado com o que falamos” e muitas, muitas vezes, não somos claros o suficiente – intencionalmente – visando a delicadeza e não grosseira.
Já anota no post it e cola no espelho do banheiro: não existe grosseria na verdade.
* Na verdade que foi requerida. Não é pra sair por aí dando opinião para quem não pediu.
Isso não se aplica se você é um profissional que presta serviço. Se seu cliente te contratou é porque QUER a sua opinião, é por isso que ele está investindo em você. Não tenha medo de falar aquilo que você sabe ou perguntar aquilo que você precisa saber.
Em um dos últimos posts comentei que uma das perguntas que precisamos fazer, antes mesmo de apresentar a proposta, para os clientes de projetos completos ou de consultorias, é o quanto ele está disposto a investir no projeto que irá permitir que ele dê vida à visão que tem, e posteriormente, de fato, na transformação dos espaços.
Não existem meias palavras na hora de conversar com o seu cliente. Se suas frases forem pela metade, o entendimento dele também será, e não é necessário uma fórmula de baskara para nos mostrar onde essa relação vai parar.
Existem algumas coisas, porém, que você como profissional, precisa estabelecer antes.
Nossas empresas, seguem normalmente, um padrão de projeto. Não estou dizendo de fato sobre o estilo de interiores, mas sim, do que entregamos aos clientes, isso precisa ser construído internamente e mantido por toda a equipe.
Aqui na mercê por exemplo, temos reuniões, encontros, um longo caderno de execução, acompanhamos, fazemos as compras – dos mínimos detalhes – composição de ambiente, suporte (…) enfim, essa é o nosso padrão de entrega, que pode ter um pouco mais ou um pouco menos, por óbvio, mas nossos processos não fogem bruscamente disso, logo, toda essa entrega tem um custo mínimo (de tempo, dedicação e dinheiro). Concordam?
Se o cliente que chegou até mim só quer um desenho 3D, eu preciso pontuar que mercê não entrega material nesse formato.
Se o cliente que chegou até mim quer que eu apenas copie um decorado, eu preciso esclarecer que não copiamos projeto algum.
Se o cliente que chegou até mim não tem perfil de um cliente que mercê atenderia pró Bono, ou não está, ainda, no momento de investir o mínimo para ter a nossa entrega, eu preciso pontuar isso, deixá-lo confortável e sempre que possível indicar outro profissional que possa ajudá-lo.
Essa clareza é essencial para que uma empresa, independente do ramo, cresça gerando confiança em cada potencial cliente, inclusive.
Quando chega o momento de entender o quanto o cliente pode investir na mercê eu pergunto exatamente isso:
“E quanto vocês estão dispostos a investir na transformação que faremos nos espaços?”
Na maioria esmagadora das vezes o cliente, a não ser que tenha feito pesquisa com outros profissionais, não sabe me dizer, e então eu explico qual a média de valores, aqui dentro da mercê, para atender tudo aquilo que já conversamos que trará vida a visão dele (na mercê isso já foi bem conversado).
Estou falando com muitos profissionais, imagino, porém, se você for cliente e chegou até aqui, não tenha medo.
Profissionais que se prezem não irão cobrar mais do que o necessário, para a empresa deles (por isso não existe regra), para executar o seu sonho.
Ainda temos uma memória de sociedade muito preconceituosa com qualquer processo de venda, infelizmente. Nosso papel é reverter isso.
Aqui, e eu indico que você faça o mesmo, os custos da mercê estão no papel, assim ninguém corre risco algum. Mercê não irá falir e meu cliente não investirá um valor que não seja justo.
Essa linguagem direta e comunicação clara é necessária para TUDO.
Não tenham medo de perder as pessoas que chegam até vocês, tenham medo de se perderem depois que o processo já começou.
Vivemos a vida de pessoas que sonham e trabalham arduamente para conseguirem realizar esses sonhos.
Entramos no lar e intimidade de pessoas que poderiam ter escolhido qualquer outro profissional, ou não ter escolhido ninguém, mas investiu em nós. Não sejamos superficiais com o sentimento desses clientes.
Servimos pessoas que não são técnicos na nossa área, e confiam no nosso potencial de criar e dar vida à visão deles.
Cuidem disso. Não sejam poucos, medianos, mornos.
Sejam os profissionais que sentimos falta no mercado.
Somos floresta e vamos espalhar essa semente.
Eliziê Ribeiro.